A Absorção dos cosméticos pela pele é pauta frequente no mundo da cosmética nos dias atuais. Com as notícias de que alguns ingredientes presentes em cosméticos sintéticos podem causar problemas de saúde ao corpo humano, muitas pessoas estão em dúvida em relação à absorção dos cosméticos que usam. Você ja deve ter ouvido a seguinte frase por aí “Tudo que você passa na pele é absorvido e vai parar na corrente sanguínea”, não foi? Essa frase tem feito parte de conversas no mundo virtual, e é inclusive parte do discursos de marketing de algumas marcas de cosméticos naturais. Pensando nisso, desenvolvemos um texto que explica de forma resumida, como acontece a absorção substâncias pela pele, e como isso pode afetar o desempenho e a segurança de um cosmético. Vamos lá?
Bem, em tese e em sua definição legal, cosméticos não deveriam chegar à corrente sanguínea – Em teoria, cosméticos realizam sua ação NA pele, e medicamentos são absorvidos ATRAVÉS da pele e chegam à corrente sanguínea.
Porém, na prática, ingredientes presentes em cosméticos podem ser absorvidos pela pele de maneira seletiva através de mecanismos complexos. Essa absorção pode ser analisada através de dois fatores: — das características da pele e — das características do composto químico a ser absorvido.
Do ponto de vista do ingrediente:
Para que um ingrediente seja suscetível a absorção, ele precisa ter algumas características específicas, por exemplo, ter moléculas de um tamanho específico (menor que 500 Dalton) e ter um ponto de fusão baixo. Alem da questão do tamanho, muitos ingredientes não são absorvidos pela pele por conta de evaporação após a aplicação, ou de adesão às células da camada da pele a ou a outras moleculas presentes nela e tambem por serem perdidos atraves da descamação da pele.
Do ponto de vista da pele:
A absorção cutânea é algo individual, ou seja, difere pelas características de cada pessoa, e depende de vários fatores: – Estado geral da pele, ou seja, saúde e hidratação da pele (quanto mais saudável, mais resistente a absorção) — idade e sexo (homens tem pele mais espessa, crianças mais fina), — quantidade de produto e tempo em que permanece na pele (produtos com e sem enxágue), — temperatura da pele na aplicação (falei sobre isso no post sobre esfoliantes), — da área de aplicação (rosto, corpo, couro cabeludo, etc.).
Além desses fatores individuais, a pele possui CÉLULAS DE DEFESA (células de Langerhans) que capturam agentes estranhos e levam para os linfonodos para serem eliminados do corpo e possui também ENZIMAS que podem quebrar essas partículas e desativa-las, eliminá-las completamente ou ainda metabolizá-las gerando componentes ainda mais tóxicos para a célula, ou de modo inverso, como no caso de óleos vegetais carreadores, que podem ter os constituintes químicos (fitoesteróis, flavonoides, ácidos graxos, etc…) metabolizados por essas enzimas e gerando benefícios à pele.
E como um ingrediente penetra na pele?
De maneira transepidérmica:
Por rota intracelular (passando por dentro das células) e por rota intercelular (passando por entre as células)
De maneira transapendicular:
por rota transfolicular (penetrando pelos folículos pilosos) e transudorípara (entrando no orifício das glândulas sudoríparas).
O esquema baixo demonstra essas vias:
Mas e qual a conclusão ?
Alguns ingredientes são absorvidos, outros não.
Alguns indivíduos absorverão alguns ingredientes em concentrações maiores, outros menores.
E na hora de formular, qual o impacto dessas informações?
Primeiro, essas informações indicam que precisamos olhar a fórmula como um todo e não apenas para seus ativos. Em um nível mais avançado de formulação, cada formulação é estudada em uma forma integral. É necessário saber a profundidade que aquele ingrediente pode penetrar na pele, quanto dele será absorvido e se ele vai chegar até o local desejado em sua forma ativa.
Como isso afeta o benefício que obtemos ao aplicar os cosméticos?
Em uma forma mais básica, podemos ter benefícios através de diferentes níveis de absorção, mesmo na absorção zero, até a absorção na derme (camada mais profunda onde um cosmético pode, por conceito, agir).
Um ingrediente pode agir de algumas maneiras sobre a pele, por exemplo, formado uma barreira oclusiva, protegendo a pele da perda da hidratação, ou humectando, trazendo água da derme para a epiderme, ou do ambiente caso você viva em um local úmido, ou ainda, reparando a barreira protetora da pele, quando usamos cremes que possuem composição similar aos lipídeos produzidos pelo nosso próprio corpo (o óleo de jojoba é um ótimo exemplo de ingrediente). Essas ações são na camada mais externa e dependem de pouca ou nenhuma absorção.
Veja então que, as varias ações dos cosméticos (hidratação, clareadora, anti-idade, etc.) ocorrem através de diferentes mecanismos e diferentes níveis de absorção.
Algumas dessas ações, como a ação hidratante, podem ser desenvolvidas sem absorção do produto, através da formação de uma barreira protetora. Os óleos carreadores, por serem lipofílicos, tendem a penetrar nas camadas mais superficiais da epiderme ou, dependendo de suas características individuais, ficarem apenas na superfície da pele, formando uma camada protetora. Essa absorção difere entre os mais diversos óleos, na profundidade e tempo de absorção.
Já a ação anti-rugas acontece através da absorção até a segunda camada da pele, a derme, onde ocorre a estimulação da produção de colágeno.
Óleos essenciais, segundo experimentos, penetram pela pele e chegam até a corrente sanguínea e são difundidos por diversos órgãos (além da ação por inalação, na aromaterapia, que ocorre simultaneamente à aplicação na pele). Eles possuem características hidrofílicas e lipofílicas, o que facilita sua absorção.
Robert Tisserand estima que em media 5% e no máximo 10% de qualquer óleo essencial aplicado na pele através de um óleo carreador chegará à corrente sanguínea e se dinfundirá pelo corpo. A velocidade de absorção é diferente entre os mais diversos óleos.
Existem alguns fatores que podem ser utilizados para beneficiar a absorção de um cosmético. Ações de produtos químicos, condições do ambiente e ações físicas sobre a pele podem oferecer melhoramento da absorção. São exemplos a fonoforese, a eletroporação, microdermabrasão, massagem e muitos outros.
Também afetam a absorção ações como esfoliação, oclusão da pele (especialmente por prevenir evaporação), partículas carreadoras (lipossomas e peptídeos, por exemplo) e melhoradores de absorção (substâncias usadas para aumentar a absorção através de diferentes mecanismos sobre a estrutura da pele), umidade e temperatura alta (o excesso de hidratação faz as células da camada mais externa da pele incharem e aumentarem os espaços intercelulares, criando poros que facilitam a penetração de algumas substâncias), parte do corpo (a absorção de substâncias é bem maior no rosto e couro cabeludo), pH do cosmético (o pH da pele é ácido e variações no pH dos cosméticos levam a diferentes níveis de absorção).
Concluindo, o sistema de absorção cutâneo é bastante complexo e existe para a proteção da vida. Dizer que tudo que passamos na pele é absorvido é um grande erro que precisa ser corrigido para o bem do movimento de cosmética natural.
Deixo vocês como uma foto de cenas do meu dia a dia para a reflexão e resumo do assunto:
Já pensou se tudo que passássemos na pele fosse direto para a corrente sanguínea?
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